2007-09-01

CONVERSAS DE RUI E LUÍS

UMA GRACINHA CIENTÍFICA
Pois é meu caro, é engraçado como as ciências acabam por concorrer para que possamos compreender até os próprios textos sagrados. E não me refiro apenas aos contributos das técnicas historiográficas e arqueológicas que, tendo conhecido avanços consideráveis nos últimos trinta anos, tanto têm contribuído não só para que se consigam ler e interpretar melhor as fontes escritas quer as conhecidas quer as que se vão descobrindo, como ainda para que sejamos capazes de procurá-las melhor e mais certeiramente no terreno –salvo seja a expressão- de tal modo que as descobertas relativas ao passado aumentaram estando já ao nosso alcance em situações anteriormente inacessíveis. Direi até que estas inovações e avanços nestes domínios científicos, sem querer estar a retirar-lhe a importância que definitivamente têm para a nossa capacidade de reconstituição de outros tempos, serão de somenos em face de outros bem mais decisivos.
Tomemos o caso da genética.
Trata-se de um ciência que à semelhança de outras vem do século dezoito, com as experiências de Mendel que foi o primeiro a compreender e tentar explicar os mecanismos e as características da hereditariedade, muito embora, igualmente em paridade com as congéneres, decorra de práticas empíricas do quotidiano de que aqueles que se dedicaram à agricultura e à criação de gado há muito foram intérpretes quando cruzavam espécie vegetais para obter planta melhores e mais robustas ou espécie animais para seleccionar os melhores e mais produtivos.
Mas da insipiência dos primeiros anos e dos reduzidos avanços dos primeiros séculos, os desenvolvimento tecnológicos das últimas décadas possibilitaram que de afirmações meramente teóricas aquela ciência tivesse ganho o estatuto respeitável da capacidade de comensurar, comprovar empiricamente e conseguir previsões –se bem que estas não em relação a dados futuráveis mas sim no referente àqueles que estão em estudo. Ilustrando, não é possível ainda prever o sentido da evolução da nossa espécie –provavelmente nunca o será- mas já é possível em face de determinados dizer que se espera encontrar isto ou aquilo em determinado lugar.
Ora hoje estamos perante uma ciência que já se revela capaz de contribuir para que se faça a história das populações humanas –estamos só a falar em termos da humanidade- e que já conseguiu proezas tão relevantes como a identificação do genoma humano ou, por exemplo, dar contributos decisivos para que sejamos capazes de compreender o que nos separa das outras espécies hominídeas que no passado viveram antes e em comum com aquela a que pertencemos.
Ainda antes de concluir a ideia que esbocei no primeiro parágrafo e que por ser de certo modo poética quero deixar para um remate final deste âmbito, deixa que te fale de uma curiosíssima descoberta que esta Ciência permitiu nos últimos anos.
Faz a pergunta: que distingue o Hommo Sapiens Sapiens que somos nós do Hommo Sapiens Neaderthalensis ou do Hommo Erectus?
O que a genética nos permite é que andemos para trás e começamos a dar conta daquilo que herdámos das espécies anteriores e portanto aquilo que é comum a todas. Desse modo mas inversamente, deixa em destaque as características que sejam apenas nossas isto é, as últimas que a evolução revelou na árvore genealógica da nossa espécie e que poderemos tomar como aquelas que nos distinguem dos nossos antepassados.
Assim e para não ser muito maçador, podemos ver, por exemplo, que a postura bípede foi herdada de espécies mais antigas e que antecederam o próprio aparecimento da nossa em alguns milhões de anos. Os Australopitecus, tanto os gráceis como os robustos, eran já portadores dessa capacidade que os outros símios não possuem, a de caminhar erecto e de fazer dessa postura o meio de locomoção habitual na prática do dia a dia. Sabe-se isso pois alhures em Laetoli, na actual Tanzânia, a antropóloga Mary Leakey descobriu em mil novecentos setenta e seis os vestígios de pegadas de um grupo de três animais que caminharam erectos sobre uma camada de cinza vulcânica fresca que lhes preservou os passos e com isso nos permite compreender que aqueles só podem ter sido dados por alguém com uma tal postura no caminhar. Ora isto terá sucedido há três milhões de anos.
Mas o estudo comparado dos crânios das várias espécies homo e as anteriores, com o cruzamento desses dados com a mais recentes conclusões a respeito das diversas áreas do cérebro humano e das funcionalidades a que correspondem que o desenvolvimento tecnológico e científico possibilitaram, viabilizaram a descoberta de que certas capacidades como a capacidade de precisão e pensamento abstracto ou o a capacidade de rir, não existiram desde sempre, antes pelo contrário, revelaram-se como atributos que surgiram nas diferentes espécies e que por via da herança genética foram transmitidas àquelas que se lhes seguiram. Assim e para considerarmos apenas estes dois casos por economia de espaço, se o Homo Erectus de quem parece descender a nossa espécie de Sapiens, era já capaz de pensamento abstracto e de prever o efeito de uma acção, como o demonstram as ferramentas líticas que nos deixaram, já o mesmo não se pode dizer da capacidade de riso que terá surgido apenas os primeiros antepassados que hoje designamos por sapiens, tal como aconteceu com a fala que, só por curiosidade, segundo a hipótese de Bryan Sykes –um geneticista britânico coevo- terá começado pelo canto.
Desta maneira e seguindo a linha de raciocínio que tenho exposto, nenhuma destas pode ser considerada a característica eminentemente exclusiva da nossa espécie de sapiens sapiens uma vez que as possuímos em comum com os nossos antepassados de que temos falado.
E existe alguma que seja apenas nossa, alguma que apenas sejamos capazes de identificar na nossa espécie e em nenhuma outra das que nos antecederam?
Ora a resposta é positiva e –Bingo!- máximo da curiosidade, diz respeito à capacidade de formular pensamento religioso. Tudo aponta para que apenas o cérebro do Homo Sapiens Sapiens trouxesse a massa em que se processam esse género de pensamentos e conhecimento. É pois a característica eminentemente humana do ponto de vista moderno e o modo como o chegamos a poder alvitrar decorre do facto de nenhum dos crânios das espécies anteriores revelar a fisionomia própria da sua existência, coisa que naturalmente acontece connosco e os nossos mais remotos avós que há mais de cem mil anos terão surgido, alhures em África.
É mais uma gracinha da história, neste caso a Natural. Se nos recordarmos do positivismo do século dezoito e das consequências que o mesmo teve para o aprofundamento do materialismo e da oposição que por via deste se quis ver entre o pensamento científico e o religioso e, pior um pouco, como o melhor testemunho da caducidade e inferioridade desta segunda maneira de pensar o mundo.
Não é espantoso que tenha sido a ciência a comprovar que afinal a religiosidade, a nossa capacidade de crença numa entidade superior e causa primeva, seja a característica que nos singulariza enquanto espécie humana relativamente a todas as outras da nossa árvore comum? Mas assim é e apesar de sabermos que as afirmações científicas têm, por natureza, um carácter provisório, aquilo que podemos dizer é que até prova em contrário é essa uma descoberta corroborada empiricamente pelo que a tomamos como boa e verdadeira. Provavelmente assim continuará pela noite dos tempos.
E creio ter explicado aquilo que me pediste; a justificação para a afirmação de que as Ciências, o olhar científico, não são incompatíveis com a atitude religiosa, o olhar religioso sobre o mundo. Achas que o consegui?
Resta pois resolver o primeiro parágrafo e aqui entro num discurso poético e muito pessoal que apenas pretende registar uma observação puramente teórica.
Trata-se do mito da origem na tradição judaico-cristã, a nossa mãe comum a que chamamos Eva.
Será que os Autores dos textos sagrados teriam no ouvido ecos de tempos muito remotos quando um ou vários deles escreveu ou escreveram o Livro do Génesis?
É que hoje sabemos que as modernas populações humanas descendem de um grupo que há mais ou menos oitenta mil anos terá abandonado o continente africano e demandado as terras da península da Arábia através do Mar Vermelho que seria então mais estreito do que é hoje em dia. Seria um bando que incorporou várias mulheres, mas entre elas não teria havido uma de quem descendessem a maioria daqueles indivíduos? E se essa segunda mãe seria uma Eva técnica, digamos assim, não terá havido uma mulher que por ter sofrido as mutações que nos distinguem da primeira espécie sapiens e as ter transmitido geneticamente aos seus filhos e demais descendentes, possa ser considerada a verdadeira Eva, a primeira mulher de que em certa medida nos fala a história do primeiro casal humano?
São pois estas pequenas notas de que me sirvo para acrescentar ao nosso diálogo aquilo que me pediste. Faço votos para que seja inteligível e do teu e do agrado de todos os outros que as lerem.

Luís F. de A. Gomes
Pêra, 17 de Agosto de 2007

2007-07-08

CONVERSAS DE RUI E LUÍS

A CARTA

Para a
Srª. D. Madalena Mira,
pela partilha que me proporcionou estas palavras


Pois é Companheiro, muitos são aqueles que falam em Ti, em Teu nome, muitos aqueles que dizem falar Contigo, uns sinceros, outros nem tanto, tantos, de tantas maneiras, com tantas motivações diferentes que eu nem sei o que Te diga do que de Ti se diz aqui, neste mundo de baixo onde a nós humanos foi oferecido viver.
Como pode alguém falar de Ti e matar eu Teu nome, Companheiro? Como pode alguém incendiar-se e levar a morte e o flagelo do desespero ao semelhante dizendo que o faz em Teu nome, dizendo-se na certeza de Te encontrar pelo sacrifício mais indizível?
Como pode invocar-Te a procura da destruição e do caos, a exaltação do martírio, a impiedade mais descarada? E no entanto continuamos a escutar e a ver as consequências desses que trazem o Mal e a maldade nas suas acções e permanecemos infantis, Companheiro, continuamos sem sermos capazes de nos separar da guerra e da provocação da morte e do sofrimento para conseguirmos espaços de paz que nunca foram universais.
Diz-se que a ganância faz parte da natureza humana mas eu não tenho isso como assim tão certo. Às vezes penso que é a ganância a fonte de todo o padecimento. Afinal é ela a mola que provoca a sede de poder que leva a que uns procurem para si a fortuna e as capacidades para disporem de si e dos outros e é daí que advêm desde os mais pequenos e individualizados conflitos do dia a dia, aos mais complexos e institucionais das sociedades que formamos. Mas a verdade é que eu não estou assim tão certo que não seja possível induzir uma certa arqueologia da ganância e verificar que nem sempre ela fez sentido se bem que sempre tenha sido possível na história maravilhosa deste animal curioso e belo, simultaneamente genial e cruel, capaz do sublime e do horrendo. Com efeito, será que não foi a partilha e não a ganância o impulso que manteve vivos e sobreviventes aqueles de quem viemos a descender? Será que o ganancioso teria muitas possibilidades de sucesso nesses universos de bandos espalhados e em movimento?
Tu compreendes-me, eu sei que me compreendes e por isso estou certo que Tu bem sabes que eu não estou aqui a recuperar ideias como a do bom selvagem do Rosseau, mas sou eu que quero ter a certeza de saber que estou a explicar-Te com clareza, a máxima clareza de que sou capaz, que pessoalmente não penso que se trate de sermos naturalmente bons, tão só de perceber que na maioria da sua permanência neste Paraíso dado, a nossa espécie viveu de um modo em que a ganância pouco ou nada tinha por onde se materializar e que por isso as circunstâncias eram menos propícias a que ela se revelasse e isso quer dizer que vivemos arredados dela mais tempo do que aquele em que vimos e vemos os homens claudicarem perante o canto de uma sereia tão perniciosa. Pois bem, tal implica que sejamos capazes de admitir que aquela não é uma fatalidade e que provavelmente teremos que reaprender a viver de modo a que ela deixe de encontrar consistência para a sua prática.
Quer dizer Companheiro que se por ora somos ainda muito infantis, há sempre uma centelha de esperança, pois não há nada que nos diga que não seremos um dia capazes de nos reencontrar com a partilha e não com a ganância e com isso conseguirmos remeter a guerra e o martírio para as prateleiras das bibliotecas independentemente da forma que venham a ter num futuro distante.
É isso Companheiro, são tantos os que falam em Ti, por Ti ou para Ti que fico sempre perplexo quando vejo os modos interesseiros como muitos o fazem, pedindo-Te isto e aquilo, prometendo-Te fidelidade em troca de favores, como se Tu fosses uma espécie de mágico capaz de tudo ajustar e resolver através de uma varinha de condão omnipotente.
E como é possível pensar assim, Companheiro? Como é possível falar-se em Teu nome e pretender que Tu possas ser visto como uma espécie de ilusionista que está ao alcance dos nossos dotes? Como é possível pensar em Ti nos termos das nossas capacidades de simples mortais e julgar que isso faz de Ti nosso Aliado nas coisas que afinal são da nossa inteira responsabilidade e, portanto, só a nós dizem respeito? Não é este outro sinal da nossa ainda infantilidade? E não é esse, ao mesmo tempo, um sinal inequívoco da Tua infinita bondade e paciência para connosco?
É tão bela esta dádiva que nos é dada…
Estás sempre dentro do meu coração e para onde quer que vá Estás sempre comigo e isso é para mim uma fonte de alegria que mesmo nos momentos mais difíceis me faz trazer um sorriso no rosto que evoca o brilho da alma que nunca deixa de brilhar, aquela pontinha sempre acesa que mesmo no desfalecimento está lá como que para me dizer que eu Te recebi e recebo, em júbilo e por isso faço o caminho mesmo quando os espinhos são tantos que me impõem os maiores dos cuidados para poder avançar sem me ferir.
Levo-Te sempre dentro do coração mas é especialmente nestes momentos que mais gosto de falar contigo, quando como agora me sentei para Te escrever depois de ter andado devagar, com disponibilidade para a circunspecção, parando aqui e ali para contemplar, o contraste que a luz faz nos ramos carregados de humidade enquanto esperam o gargalhar das folhas e das ramagens tenras do espanto que a lezíria faz quando o chão se inunda de arco-íris, ou as conversas que os pássaros têm a propósito das suas vidinhas saltitantes de procurarem o alimento e o encanto de se entregarem às viagens entre pontos distantes.
E não é a vida um delírio que de nada mais precisa para remeter um constante planar pelos olhos?
Eu sei que se diz que as responsabilidades são tantas que impelem uma vida apressada, arredada das oportunidades para o deleite e os enleios da alma, eu sei muito bem que muitas vezes se ouve dizer que aqueles que se perdem nessas deambulações poéticas acabam por ter maus resultados e ficarem atrás dos outros no que se aponta como fundamental para a sobrevivência. E há algo prioritário relativamente à sobrevivência? Pode haver filosofia sem corpo? Mas a verdade é que sequer sem pensar em pôr isso em causa, haverá sempre espaço para expressar o caramba, nem mesmo somos capazes de encontrar dois minutos de cigarro para nos deixarmos enlevar pelo silêncio do chocalhar de uma árvore, ainda que seja no antes da entrega ao ganha pão? É claro que seria estúpido pensar que poderíamos deixar de trabalhar para nos darmos ao luxo de escolhermos vadiar por aí, perdidos na busca do encanto, mas que nos custa um sorriso para aquele que temos em redor nas peripécias do quotidiano? Será assim tão pesado e desajustado um sorriso, um simples reparo de como o reflexo dos vidros de um carro faz uma fotografia de espantar, será tão ingénuo e palerma dizermos que estamos felizes, que nos sentimos deslizar em raios invisíveis de júbilo só pelo facto de olharmos os contrastes de branco e cinzento das nuvens sobre poças de azul?
E eu sou tão feliz, Companheiro, há dias que me sinto em tão grande plenitude que chego a duvidar de tanta felicidade pois pergunto-me o que possa ter feito para a merecer. Contudo sinto-a na alma que se enternece nas pequenas conversas das minhas queridas filhas e que sorri só por se saber a caminho dos almoços que fazemos em conjunto. Não é tão belo vê-las crescer, receber um telefonema a meio da manhã com o queixume da Margarida porque o seu amiguinho não lhe telefonou durante todo o fim-de-semana? E chegar a casa cansado, com vontade de nos estendermos e sermos recebidos pela doçura de um “olá pai” e a história de uma aventura ou a dúvida de um problema ou a alegria de uma leitura, não são esses momentos de louvar a vida que levamos? Como é bom estendermo-nos no chão em jogos de infância e partilhar a criancice de uma qualquer brincadeira de fazer crescer. Porque teimamos em calar esses olhos vagabundos que procuram encontrar nos momentos as cores de uma delícia?
Como pode então alguém atentar contra isto e como se isso pouco fosse, fazê-lo ainda em Teu nome?
Há coisas tão difíceis de compreender, Companheiro. É tão doloroso quando nos perguntam onde Estás nas barrigas deformadas dos meninos que morrem à fome. É tão inquietante, tão doridamente perturbante quando nos confrontam com a terrível pergunta de saber onde estavas quando o gás assassino calou a inocência para sempre?
Pois é Companheiro, meu Pai, meu Amigo, meu Guia, sobretudo meu Companheiro, será assim tão difícil de compreender a Tua Infinita Bondade?
Tu entende-nos, pois então e eu sei isso, tal como sei que nos perdoas o sermos ainda tão infantis que Tu, na Tua Sábia Paciência, aceitas que percorramos o nosso caminho à nossa maneira, à medida da liberdade que nos Concedeste, pois é disso que se trata, é isso que Te distingue das nossas criações e projecções mágicas, mitológicas e nos diz que Tu és a Luz da Criação, A Causa, o Veículo da Bondade que propiciou à inteligência a oportunidade de tentar conseguir ser capaz de Te alcançar, de ir ao Teu encontro de te abraçar na contemplação de uma Eternidade de Paz e Amor.
Por seres Infinitamente Bom deixaste a Física desenrolar-se pelas suas próprias leis, Contentaste-te em veres nascer aqueles a quem concedeste a liberdade de Te escolherem ou não, aqueles com quem Te ofereces para partilhar a Plenitude e que pelo Amor aceitaste que tenham surgido sem a Tua interferência directa e existam pela sua própria vontade de acordo com os trilhos que decidirem seguir. Não será a Evolução um testemunho da Tua Infinita Bondade e Paciência?
Não compreender isso é não perceber que o Universo não tem qualquer sentido e até mesmo a Vida nenhum outro pode ter por si, é não ser capaz de entender que somos nós, os intérpretes, os que transportamos connosco a inteligência, aqueles que para aquele e esta devemos encontrar uma lógica, se quisermos um norte. E tudo pela Tua Infinita Bondade que nos deixa a liberdade de fazermos ou não essa escolha, mesmo sabendo que só por ela poderemos encontrar a Eternidade e, dessa forma, Te permitir a Felicidade de connosco Te partilhares, por efeito da Tua Grandeza e para fonte da nossa felicidade.
A Tua bondade é tanta que Criaste uma Obra que não precisa de Ti para ser explicada e apesar da nossa pequenez, apesar da nossa vaidade, apesar da nossa maldade, deixa que te diga que ao mesmo tempo temos sido corajosos a ponto de arriscarmos e termos conseguido espalharmo-nos pelo planeta inteiro, mesmo por climas e regiões inóspitas, como os desertos ou as planícies geladas do Norte e apesar da nossa juventude, apesar de toda a nossa infantilidade de pensamento e até de carácter, apesar de ainda sermos em tantos e tantos aspectos tão primitivos, lá temos sido bem sucedidos na demanda da compreensão para os enigmas que o Cosmos nos coloca e lá temos inventado linguagens que o medem e o interpretam, como é o caso desse prodígio que é a Matemática que, em última instância, possibilitará uma comunicação universal. E assim temos descoberto as leis da matéria, temos sabido elaborar máquinas e mecanismos e os mais diversos instrumentos para tentarmos ver o princípio dos princípios. E que dizer das genialidades de que temos sido capazes? Mesmo em tempos obscuros surgem aqueles que vêem ao longe e não foi brilhante que um Darwin jovem e livre pensador tivesse sido tocado pela intuição de perceber que mesmo nós resultamos de um complexo jogo de combinações e contingências em que o acaso fala e de que acabaram por resultar indivíduos com as características bio-genéticas que temos hoje e que nos destacam, enquanto animal, dos outros que, na nossa árvore genealógica, nos antecederam?
Onde está a Tua Omnipotência? Onde está a Tua Omnisciência?
Evidentemente que Tu és Omnipresente e Omnisciente, mas Tu meu Companheiro, Infinitamente Bom como És, preferiste não interferir e apenas nos emites sinais, alguns sinais que nós podemos interpretar e servirmo-nos deles para nos guiarmos em Teu alcance. Quem diz disto que Tu nos abandonaste não percebe que Tu jamais poderias pretender que Te adorassem por idolatria, o mesmo é dizer que Tu, meu Companheiro, meu Infinitamente Bom Companheiro, jamais poderias querer que Te adorassem por ser essa a Tua vontade, que nós Te procurássemos e Te seguíssemos porque Tu assim determinaras. Seria por acaso muito curioso de ouvir se quem assim Te vê também pensa que Tu és permeável ao tédio o que estaria desconcertantemente em desalinho com tudo aquilo que depois falam sobre o Teu Poder Infinito, pois porque outro motivo seria que Tu pretenderias impor a partilha da Eternidade a quem quer que fosse? Eu sei que Tu sorris perante tanta puerilidade e que sabiamente esperas que sejamos capazes de Te encontrar, ainda que num futuro distante mas isso para Ti não importa, Tu não te encontras no Tempo, carinhosamente esperas que sejamos capazes de sobreviver ao manuseamento de tecnologias de destruição massiva, ao uso da manipulação do núcleo do átomo e do que dentro dele interage e do Holocausto de uma guerra com armas dessa natureza.
Somos nós, Companheiro, somos nós quem tem que abrir o coração para que Te aceitemos e nele Te abriguemos; não és Tu quem tem que nos dar o que quer que seja, não és Tu quem tem que nos dizer o que deveremos fazer, somos nós, Teus filhos, os simples mortais a quem a inteligência dotou da capacidade de Te procurar, somos nós quem tem que Te dar o sentido dos nossos caminhos, é a nós que compete perceber que amar-Te é procurar-Te, é receber-Te, é viver com a Tua Luz no interior da alma, é viver na demanda da justiça para com o semelhante e a isso acrescentar-lhe o prazer da partilha, da dádiva para com o próximo que nada impede que se restrinja ao sorriso de bons dias com que podemos receber todos aqueles com que nos cruzamos e à certeza de nada fazer que mal gere para outrem. É essa a via da Eternidade, pois só por dessa maneira é possível conceber a perpetuação do nosso legado de humanos.
E há pessoas tão bonitas, meu Companheiro, como as manhãs solarengas, mesmo no Inverno, quando a luz já conquistou umas boas mãos cheias de minutos à noite mais longa, fazem sorrir o olhar que se deixa seduzir pelos relances de uma imagem, como os pássaros que se afoitam para a azáfama de receberem a Primavera nos fazem parar de ouvidos à espreita, há seres tão cativantes que nos entusiasma tanto conhecermos, gente linda que nos transmitem serenidade e beleza e que só por as vermos, só por com elas falarmos, sentimos que é belo viver que vale a pena ter acordado e vindo para a vida cheio de energia para receber uma prenda tão sedutora em forma de encontro.
Há o reverso, é certo e nem temos que nos lembrar das verdadeiras encarnações de Samael que tanto horror e sofrimento trouxeram ao mundo. Basta que atentemos na falta de escrúpulos que corrompe e traz malefícios em troca de satisfações gananciosas de poder e mais poder que a tantos retira o trabalho que dá o pão e atira a maioria dos nossos irmãos para o limiar da subsistência mais atroz e da ausência de dignidade, essa Tua Centelha que todos, sem excepção, por sermos Teus filhos, transportamos quando nascemos e que nada mais é que o respeito que merecemos de nos ser dada a possibilidade de escolhermos um caminho para o nosso palmilhar as sete partidas da existência. Como é que é possível que num planeta, um ínfimo pontinho tão frágil mas simultaneamente tão maravilhosamente paradisíaco, nós não sejamos capazes de viver sem fomes e sem guerras, sem rapinas e sem miséria, quando temos todos os recursos e os meios tecnológicos, científicos e até mesmo económicos para conseguirmos viver na partilha desse legado admirável da Tua Obra?
Mas é isso, Companheiro, Tu sabes e eu sei e naturalmente haverá muito mais quem também saiba que a Maldade é obra humana, não existe na Natureza Cósmica que tu criaste, pois aí, os factores de destruição inserem-se na dualidade de ciclos de renovação com que se faz a continuidade do Tempo que Esta Tua Obra dure se é que não durará para todo o sempre. Do mesmo modo que só cada um de nós pelos actos que pratica pode perder a dignidade com que nasce, por isso é indigno aquele que atenta contra ela com o que, em concomitância, o faz contra Ti, a Maldade foi uma escolha dos homens, de homens vulgares e comuns como eu que aqui te estou a escrever neste momento, sentado à sombra de uma parede decrépita enquanto as águas da maré vão embebendo as esmurraceiras e fazendo um barquinho envilecido deixar de estar parado sobre a lama, para baloiçar ao de leve na trepidação que o movimento causa no espelho liquefeito. São as pessoas que escolhem fazer o mal e o praticam e não nenhuma força exterior a elas que lhes imponha tais condutas. São elas, pelos seus valores ou pela ausência deles, são elas que pela sua vontade mais ou menos consciente, mais ou menos dolosa, são que elas que decidem levar o flagelo e o sofrimento ao esmagamento do seu semelhante e foram e são elas que pela intensidade e a natureza da dor que provocam fazem com que a Maldade possa surgir entre nós.
E até isso decorre da Tua Infinita Bondade, da Infinita Paciência com que nos brindaste com a liberdade de podermos viver na Terra de acordo com as nossas leis e vontades e de o fazermos com a liberdade de podermos escolher o caminho das nossas vidas e em ele podermos escolher precisamente entre a prática da maldade ou não.
Pois nem mesmo deixaste o Teu Caminho como a única via para falarmos da dignidade com que nascemos, do modo como a podemos perder, de como por ela podemos justificar a liberdade e aí encontrarmos uma vez mais a possibilidade de compreendermos a preferência de escolhermos entre a prática da maldade ou não. Não nos dizem as ciências que somos membros de uma mesma espécie e que a vida de cada um de nós é um acontecimento singular e irrepetível, com o que poderemos defender para nós o estigma da infinita dignidade só consentânea com a liberdade individualizadamente considerada? Não podemos derivar daí valores semelhantes àqueles que para a vida diária da nossa condição de humanos Tu nos gravaste na pedra da Aliança? Como Tu és Misericordioso que várias são as veredas que nos deixas para a Salvação.
Sabes que eu às vezes gosto de imaginar histórias de Anjos? E nelas gosto de me deixar levar pelo pensamento e várias têm sido as ocasiões em que eu dei comigo a pensar que esses bandos de Querubins são como que as borboletas do Universo por onde deambulam para acompanharem aqueles que como nós aí têm a sua casinha comum? E então penso que se muitos terão sido por Ti criados, os restantes resultam do prémio que as pessoas boas têm quando o seu relógio biológico as remete para o Teu doce regaço. E o curioso meu Companheiro, algo que sempre me fascinou e deixou cheio de esperança e simultaneamente cheio de Fé, é a verificação que as únicas pessoas verdadeiramente boas que conheci, pessoas sem o mínimo vestígio de maldade, seres puros e cheios do belo de almas imaculadas, são pessoas que não Te consideram nas suas vidas que fazem na completa ausência de qualquer consideração a Teu respeito. E eu tenho a certeza que a mulher mais maravilhosa que conheci em todas as minhas andarilhices pelas esquinas do destino, o ser que mais gozo me deu saber que existe e conhecer de perto e que guardo no mais profundo do meu coração e da minha alma, um dia será um dos Anjos que nos acompanham, sem no entanto interferirem nos nossos assuntos. E no entanto não crê em Ti, tem mesmo uma mundivisão assente em ópticas materialistas, se assim posso falar, mas que dizes de alguém que um dia, perante o desespero de um adolescente que, na aula, não fora capaz de mais nada pintar que um borrão, por descrédito da capacidade de conseguir fazer o que quer que fosse, perante isso teve a minha querida amiga a espontânea expressão, “-Olha que bonito está!”, para depois organizar uma exposição temporária da arte dos seus aprendizes, na qual, em lugar ligeiramente destacado estava, justamente, o borrão? Pois foi esta a única pessoa de quem sou capaz de afirmar estar inteiramente isenta de maldade. Sempre a vi aceitar, mesmo aquilo que para ela lhe levou a dor que naturalmente procura contrariar mas nunca pisando alguém e nunca deixando de julgar o semelhante com justiça. E foi ela a única pessoa ao lado de quem eu me senti inteiramente eu, como sou, no completo da minha pessoa.
Ora isso traz-me esperança, Companheiro, multiplica a minha Fé, pois afinal materializa a razão de ser da Tua Infinita Bondade e por aí ganho energias para levar de feliz a minha vidinha de homem simples e banal, cujos maiores encantos são as delícias da partilha do quotidiano com as duas pessoas que tudo são para ele, as filhas adoradas e que lhe enchem a alma de mimos e cujas maiores ambições se resumem a viver em silêncio, despercebidamente, sem deixar lixo como rasto da sua passagem. Quando ouço alguém dizer que não podemos viver Contigo, com a tua demanda, mesmo no mundo dos negócios, deixo sempre que um sorriso invisível me traga à memória o lado de cá da esperança.
Olha a bola que o ocaso incendeia agora mas que daqui a nada se prateará, à medida que pela aparência se eleva aos nossos olhos. Está na hora de regressar, para fazer o mesmo que me trouxe até aqui. Anda daí, meu Companheiro, vamos descer aquela álea de choupos que tanto me embriaga de visões de luz e penumbras, onde no começo estará a Misteriosa caixinha de correio onde poderei depositar esta carta.

Luís F. de A. Gomes
Porto, Alhos Vedros, 3, 8 e 9 de Março de 2007

2007-06-23

CONVERSAS DE RUI E LUÍS

NOTAS DE PENSAMENTO

Escrevo aqui alguns comentários, em relação à conversa que tivemos, a desfrutarmos o Tejo.
Falámos sobre os nossos interiores, sobre uma das leis que operam no Universo; a dualidade. E acerca de Deus.

Comecemos pelos nossos interiores...


Se observamos cuidadosamente a nossa vida, o nosso dia a dia, verificamos que nunca somos idênticos: às vezes se manifesta em nós uma pessoa esplêndida, benevolente, em outro instante uma pessoa irritada, mais tarde impaciente, depois autoritária, triste, alegre, etc, etc...

Surgem-nos fluxos de Pensamentos contínuos em forma de desejos, sonhos, discursos, sexo, paixões, dramas pessoais, mentiras, vícios, preocupações, complexos, imagem pessoal e por ai fora.


Nossa personalidade é como uma marioneta ao sabor dos diversos estados que projectamos do nosso interior. Somos envolvidos e absorvidos por uma teia de regras, leis, códigos morais, modas, marketing, que nos influenciam e moldam comportamentos.
Vivemos como que esquecidos de nós mesmos, acabamos por não saber viver conscientemente.


Quando nos questionamos: quem somos? O que fazemos aqui? Como funcionamos? Qual a consciência de nós mesmos?
Se quisermos realmente responder a estas questões, então é necessário compreender a nossa pessoa, como funcionamos.


Se reparares "somos uma sucessão contínua de pensamentos" estamos sempre a emitir pensamentos.
DEVEMOS COMEÇAR POR AI, parar nos pensamentos: analisá-los, compreendê-los, transmutá-los.
Se nos queremos chegar a conhecer a nós mesmos, então temos que auto-observarmo-nos.


Quando observamos algo exterior, a atenção é dirigida para fora, para o mundo exterior e através dos nossos sentidos captamos o que nos rodeia.
Na auto-observação a atenção é orientada para dentro, para o nosso interior.


O nosso mundo interior é auto observável em si mesmo e dentro de si mesmo.
Quase tudo provém do nosso interior, tudo se passa nos nossos pensamentos, que projectamos na Mente ou emitimos para o exterior através da fala, de atitudes ou comportamentos.
O que se passa no exterior é o reflexo do que pensamos interiormente.


O Mundo exterior é observável através dos sentidos.
O Mundo interior é auto-observável em si mesmo e dentro de si mesmo.

Pensamentos, ideias, emoções. SÃO INTERIORES. Invisíveis para os sentidos.
Em nossos mundos internos: amamos, desejamos, sonhamos, bendizemos, maldizemos, gozamos, sofremos, suspeitamos...


O conceito de Real, é aquilo que experimentamos no nosso interior.


Cada pensamento negativo (má vontade, cobiça, ira, vingança, orgulho, luxúria, inveja, ódio, ressentimento, ciúmes, raiva, desconfiança, suspeita...) Cada pensamento desses é uma emanação de energia É COMO UMA PESSOA DIFERENTE QUE VIVE DENTRO DE NÒS.


A grande e difícil Batalha Interior é a luta contra todos esses defeitos e pensamentos.
É a eliminação das partes negativas que nos permite que as nossas energias interiores e a nossa própria Alma adquiram pureza e graus vibratórios que lhe permita ascender nas hierarquias Divinas.


É essa a luta de vencermo-nos a nós próprios.
É parar nesses pensamentos e eliminá-los, transmutá-los no momento em que eles comecem a surgir.
Para te venceres a ti próprio terás que vencer esta luta; pensamento a pensamento, desejo a desejo, vício a vício, complexo a complexo... É a batalha entre o bem e o mal.


A chave está na dissolução dos elementos indesejáveis que carregamos dentro de nós.


Auto-conhecendo-nos, vendo como somos internamente, iniciaremos o caminho em direcção à Verdade e Liberdade.


Nós somos o que é a nossa vida.
Acreditamos que é importante o que não é importante; a última noticia, a última moda, a aventura amorosa, as fofocas, as calúnias, os boatos as diversões...Envolvidos no quotidiano, nem nos apercebemos que nem os nossos pensamentos, nem as nossas acções e nem os nossos desejos nos pertencem verdadeiramente.


Dando-te como exemplo o sexo (relacionamentos) que é uma energia muito poderosa e transformada em desejo, talvez seja o "inimigo" mais difícil de combater. O sexo e a busca de um parceiro é como que o centro de gravidade das nossas actividades.
Se reparares, a razão de fundo pela qual as pessoas frequentam grupos, associações, Internet são impelidas pelo sexo, reúnem-se no café impelidas pelo sexo, vão à praia impelidas pelo sexo, jantaradas, festas, bares, discotecas, o sexo está sempre presente e por ai fora...


Suponhamos que um pensamento qualquer de luxúria com uma amiga se apossa de nós e começa a projectar na tela da Mente cenas de sexo. Se nos identificamos com esses pensamentos eles permanecerão. Mas se os eliminarmos ou transmutarmos da nossa psique obviamente eles desaparecerão. Este é um exemplo da luta interior contra nós próprios, contínua, pensamento a pensamento.


Outra situação como exemplo: se ao chegarmos, ao nosso carro e verificamos que ele tem uma amolgadela, provocada por alguém que nem deixou contacto, basta isso para nos sentirmos imediatamente infelizes e tristes.
Com raiva pelo sujeito que fez aquilo, com as despesas que temos de suportar injustamente, "ficamos com o dia estragado". Catapultamos uma série de pensamentos negativos, que sem nos apercebermos, só nos ajudam a continuar infelizes e tristes e essa sensação só se vai desvanecendo com o passar do tempo.
Mas se tivermos a capacidade de parar nesses pensamentos, de analisá-los, transmutá-los, inverter a sua polaridade, então podemos começar a transformar a infelicidade e tristeza que nos envolvem interiormente. Se levarmos uma vida auto-consciente somos nós que dirigimos caso contrário somos dirigidos.


Por falar em inverter as polaridades e já que me estou a alongar muito, vou abordar as outras duas questões de que falámos e tentar ser breve.


Deus, o Todo, Alá, o Inefável, Aquele que É, O que É ;ou qualquer outra designação que lhe queiramos atribuir é UNO é a unidade.
O cosmos, o universo, onde estamos inseridos, Tudo é Duplo.Há dois lados em tudo. Tudo tem dois pólos.
Tudo tem o seu oposto. Tudo tem dois extremos.
Esta é uma Lei que rege o universo, também as nossas vidas.


Imagina dois extremos, no meio um ponto neutro (EX: números positivos , números negativos e o zero) e um pêndulo que oscila entre os dois extremos. É assim que se manifesta a Lei da Dualidade.
Os opostos são idênticos em natureza, mas diferentes em graus consoante o pêndulo está posicionado.
Os opostos são a mesma coisa, diferindo somente em grau.


Lembras-te...! Falámos do calor e do frio, ainda que sejam opostos; são a mesma coisa, a diferença situa-se na variação do grau da temperatura. Falamos em calor, quando as temperaturas se situam acima dos 30 graus, em frio quando são menores que os 10 graus.
Qual a diferença entre o grande e o pequeno? Entre o alto e o baixo? Entre o branco e o preto? As diferenças consistem nas variações de graus, com muitos graus de diferença entre os dois extremos.
Tudo o que adjectivamos existe em opostos.
Mas isto é o universo é a vida. Dentro de Nós e fora de Nós existem sempre as duas partes e deslocamo-nos entre os dois extremos.


Esta Lei também opera nos pensamentos e no plano mental.
Todos nós já vivemos múltiplos períodos e situações de:
Amor e de Ódio.
Alegria e de Tristeza.
Coragem e de Medo.
Saúde e de Doença.
Bem-estar e de Mal-estar.
Esperança e de desespero.
Felicidade e de Infelicidade... etc... etc... etc...
Mas tudo isto está dentro de Nós, as duas partes fazem parte de Nós... e o pêndulo oscila em movimentos entre os opostos.


Em Nós também existe a dualidade, o próprio cérebro está dividido em dois; hemisfério direito e esquerdo.
A nossa própria vida é dual. Possuímos o nosso próprio "mundo interior" que é só nosso. Mas perante os outros e a sociedade fabricamos a nossa imagem exterior
Quando se afirma que a vida é um palco e nós actores cheios de máscaras,é essa a nossa realidade exterior.


Como é que podemos interferir com esta Lei? Como é que podemos utilizá-la na nossa vida?
Os nossos estados Mentais em relação a qualquer coisa são todos uma questão de graus.
Dois estados Mentais diferentes, mas com a mesma natureza,é possível mudar as vibrações e as energias dos pensamentos.
Pomos em movimento o princípio da dualidade e concentramo-nos sobre o pólo oposto ao que queremos suprimir.
Os nossos estados interiores podem ser transmutados e transformados de grau em grau, de extremo a extremo.
Podes transformar aquilo que é desagradável em agradável; o que é negativo em positivo; tristeza em alegria; ódio em amor, etc... etc...
Imagina que aconteceu qualquer coisa desagradável e ficaste cheio de ódio; se parares nos pensamentos, se sentires conscientemente o teu estado interior e contrapores pensamentos de amor estás a mudar a polaridade do teu estado interior. Podes transmutar o ódio em amor e vice-versa, porque são da mesma natureza. Não podes transmutar ódio em coragem ou alegria porque são de naturezas diferentes. Podes transformar medo em coragem ou alegria em tristeza; podes transformar tudo, é uma questão de estares desperto, auto-consciente, controlares os pensamentos.


Por curiosidade:
A aplicação destes princípios das Leis Universais, eram os princípios básicos da arte da Alquimia, que se baseava no domínio das forças Mentais e não como geralmente se crê, no dominio dos elementos materiais. Os textos mais antigos que conheço sobre estes temas são alquimistas. Vou comentar mais duas leis que interagem com a dualidade.
A Lei do Ritmo e a Lei da Compensação. A lei da dualidade e a lei do ritmo, faziam parte das 7 leis que os Alquimistas consideravam como as mais importantes, que se manifestam no universo.


Lei do Ritmo é a lei responsável pelos ciclos de vida nascer-crescer-amadurecer-decair-morrer-renascer; tudo tem um fluxo e um refluxo, tudo avança e recua é a lei responsável pela ascensão e queda das nações, civilizações por exemplo a economia (neste momento estamos em recessão, anteriormente estávamos em ascensão).
Lei da Compensação: a medida do movimento à direita è a medida do movimento à esquerda; tudo se manifesta por oscilações compensadas, o ritmo é a compensação.


Dando como exemplo a Felicidade, talvez o principal objectivo de todas as pessoas...Só que nos esquecemos que vivemos num Universo Dual e como tal a infelicidade também faz parte.
Quando vivemos períodos de intensa felicidade, vão-nos surgir períodos de intensa infelicidade. Quando vivemos momentos de felicidade moderada, teremos momentos de infelicidade moderada e assim sucessivamente, vivênciamos vários ciclos com diversos graus.
Se reparares, mesmo as pessoas com muito poder ou com fortunas incalculáveis tem períodos(ciclos) de felicidade e infelicidade, assim como os pobres e humildes. Ambas existem e fazem parte da vida.


São as partes negativas que nos causam infelicidade, se não anularmos todas as naturezas que nos provocam infelicidade esta irá continuar a manifestar-se.
Geradores de infelicidade: inveja, ciúme, ira, tristeza, ódio, desgostos. morte, desconfiança, injustiça, complexos, traição, sonhos por concretizar, desejos por realizar... etc... etc, mesmo quando sentimos satisfação com vinganças, sacanices, mentiras...mais tarde o arrependimento e remorsos causam-nos infelicidade.
Polarizando e transmutando o negativo em positivo(È UMA LUTA CONSTANTE CONTRA NÒS PRÒPRIOS E ASCONTIGÊNCIAS DA VIDA) eliminando os maus pensamentos, colocando o pêndulo no "LADO DO BEM", consegues ultrapassar ciclos de infelicidade e usufruir de felicidade interior mais estável e duradoura.


A lei do ritmo manifesta-se entre os extremos (pólos) estabelecidos pela dualidade; não se pode anular a lei do ritmo
(ciclos) ou impedir as suas manifestações, assim como as outras Leis Universais, mas poderás escapar da sua actividade, principalmente nos ciclos negativos, através da transmutação de pensamentos e pela lei da neutralização.
A vibração do pêndulo realiza-se no plano inconsciente, se aplicares transmutação e a lei da neutralização a vibração não é manifestada na consciência."É como se te elevasses acima de uma coisa e ela passasse por baixo.
Evitas que os Estados Mentais negativos (ex: infelicidade) te dominem; e fortaleces o domínio de ti próprio e da vida.


Vivemos a nossa vida exterior, mais em função daquilo que os outros possam pensar de Nós, do que em função de Nós próprios.
Os dias sucedem-se e por vezes surgem-nos problemas, preocupações, injustiças, situações que nos magoam...(infelicidade).
Superar e transmutar todas estas contingências da vida não é facíl. Geralmente, acomodamo-nos e deixamo-nos ir ao sabor da corrente. Reclamamos que este Mundo é cruel, corrupto, degradado, injusto, louco, fazemo-nos de vítimas e coitadinhos mas não nos preocupamos em saber porque é que as coisas acontecem assim.
Raramente, de manhã, frente ao espelho nos interrogamos. O que é a minha vida? O que é que Eu Sou afinal? Sou feliz?
O que é que consegui, o que é que quero da Vida...


Existe o Livre Arbítrio, a escolha é sempre nossa, existem sempre as duas partes: ou continuamos adormecidos com a Vida a passar-nos ao lado... Ou despertamos e começamos a conhecer-nos e a tudo aquilo que nos rodeia. A força de vontade é importante.
Rui
A ver o Rio


Sabedoria

2007-06-09

CONECTIONS

Com este pequeno ensaio que hoje concluímos, fazemos aqui a nossa modesta homenagem ao Zeca, o pintor responsável pelas peças de arte que dividem os diversos textos que temos vindo a apresentar nesta janela de o "Atirei o Pau ao Gato". Para ele que tanta generosidade revela, a gratidão pela amizade e o maior bem-haja que sempre está contido naquele abraço.
Luís


5

Isso implica um regresso ao início deste artigo, desta vez com uma outra interrogação:
Neste sentido, será que o preconceito etnocêntrico pode alguma vez ser superado?
Antes, contudo, coloquemos uma outra:
Como ultrapassar os referidos medos e o egocentrismo?
Por via do conhecimento que no segundo caso deverá ser acompanhado por valores morais.
Retomando a primeira pergunta, vejamos o caso, novamente, em comparação com o racismo.
De acordo com uma abordagem fria da temática, estamos mais tranquilos perante estas últimas ideografias, sempre passíveis de serem refutáveis.
Com isto não se deduza uma atitude menos atenta ou, se quisermos, mais displicente. Seria um erro. Serenamente, queremos apenas dizer que estando em alerta permanente, jamais desperdiçaremos uma oportunidade para objectarmos novos eventuais contributos para as ideografias em causa.
Digamos que em face do racismo, esta poderá ser uma posição a tomar, claro está, estritamente em termos de argumentação científica.
Quanto ao preconceito etnocêntrico a coisa é mais complicada. Sabemos que ele parte de mecanismos que não dependem da nossa vontade e ou consciência.
Acontece que em rigor, nada nos permite afirmar que o medo e o egocentrismo possam vir a ser definitivamente debelados. Provavelmente enquanto possibilidade existirão sempre na vida dos homens e especialmente em relação ao primeiro, nem poderemos estar certos que seria positivo ou passível de consequências positivas para a espécie se tal viesse a suceder.
É admissível que em situações pontuais eles possam ser postos de parte e ainda que isso possa acontecer em grande parte dos casos.
Ora isto é o mais importante, saber que à medida que formos propiciando a aproximação dos povos e sempre que consigamos inviabilizar as manifestações dos medos xenófobos e das atitudes egocêntrica, com isso poderemos fazer recuar as possibilidades de a interacção entre aqueles fenómenos gerar o preconceito etnocêntrico.
Daqui resulta que deveremos escolher uma permanente posição preventiva.
Estaremos sempre dispostos e procuraremos manter as condições para uma resposta eficaz a estes preconceitos.

Luís F. de A. Gomes

2007-05-26

CONECTIONS

4

Chegados aqui, não poderemos avançar sem indagarmos o porquê do etnocentrismo.
Recordemos que aquele preconceito é a ideia que os padrões culturais de uma sociedade humana são, para os indivíduos que lhe dão corpo, mais importantes e avançados que os das outras.
Cabe agora perguntar, em que se baseia esta crença?
Quais são os alicerces dessa propensão para conferirmos maior importância às nossas próprias formas de vida?
O que levará alguém a afirmar a superioridade da sua cultura em relação às outras.
No ensaio anterior escrevemos que o isolamento geográfico propiciou o desenvolvimento do preconceito em referência. Terá sido o seu enquadramento exterior.
Porém, continuamos a falar de pilares exteriores aos indivíduos.
Mas, se como sustentámos, o preconceito etnocêntrico é uma crença e, por isso, sendo inconsciente no discurso de uma certa pessoa, não é algo natural à sua biologia, ainda assim é pertinente que se coloque a seguinte dúvida:
Inerentemente aos seres humanos não existirão factores –salvo seja a expressão- que facilitem o aparecimento da resposta etnocêntrica?
Respondemos pela afirmativa e, por ora, limitar-nos-emos a destacar dois elos para esta problemática.
Falamos do medo e do egocentrismo.
No primeiro caso referimos uma coisa que é própria dos seres humanos e que se pode revelar em qualquer pessoa, o medo dos outros, do desconhecido, isto é, os receios e os temores que possamos sentir em face do que não conhecemos ou do que, sendo conhecido, sabemos ser doloroso.
Precisamente por isto, os sociólogos rurais identificam a aldeia como espaço securizante na cosmovisão dos seus habitantes.
No segundo estamos a pensar na humana tendência para nos apresentarmos como as pessoas mais importantes, atitude normal durante certo período nos princípios das nossas vidas, pelo menos no que diz respeito aos cidadãos das sociedades ocidentais.
Em ambos os casos não estamos a dizer que seja algo comum a todos os elementos da nossa espécie. Mas em contrapartida, é algo a que ninguém estará imune no princípio da vida.
Isso facilita a projecção colectiva que se materializa no etnocentrismo.
Estes fenómenos podem interactuar e levarem os indivíduos a desenvolverem o preconceito etnocêntrico, justamente como forma de afirmação e ainda como meio de conter os medos aludidos e também de dar escoamento a esses impulsos egocêntricos.
Com isto interagem para que o etnocentrismo seja, na sua génese, um fenómeno não dependente da nossa vontade e ou consciência.
De qualquer modo, aquela interactuação não tem necessariamente o desenlace apresentado.
Neste aspecto incide o modo como, em geral, os humanos vão construindo o seu conhecimento comum do mundo, dentro e a partir dos seus espaços de vivência quotidiana.
Essa formação dentro de parâmetros limitados ao nosso próprio modo de vida conflui para que a interacção dos citados mecanismos tenha maior tendência para propiciar a expressão do preconceito etnocêntrico.
Quando falamos em superar o etnocentrismo, para lá de tudo quanto tenhamos escrito até aqui, vemo-nos forçados a considerar o que pode dirimir estes últimos fios em que aquele se consolida.


Luís F. de A. Gomes

2007-05-13

CONECTIONS

3

A fim de propormos a falta de razoabilidade do preconceito etnocêntrico avançaremos com duas ordens de argumentos. Inicialmente uma de carga fraca em que nos limitaremos a rejeitar um dos componentes daquele silogismo apriorístico. Em segundo lugar uma outra mais forte com a qual se sublinhará a impossibilidade da sua sustentação.
Ataquemos a crença na superioridade civilizacional.
Logicamente não haverá alguém de bom senso que possa negar os diferenciados graus de sofisticação tecno-económica e de condições de vida entre as diversas sociedades humanas.
Fazer dessa evidência um ponto de análise explicativa é, tão só, uma tautologia que pouco ou nada vale. Diríamos que nem faz sentido.
Equivale a dizer-se que certas sociedades humanas são mais evoluídas pelo facto de serem mais evoluídas.
Mais importante, na nossa perspectiva, interessa ressalvar que o problema deve ser encarado sob outra óptica, pois, no âmbito anterior, estamos a manuseá-lo de uma forma abstracta.
Na realidade, ao pretender-se justificar os desníveis culturais com eventuais capacidades dos indivíduos ou, se o quiséssemos fazer de modo inverso, argumentando que as civilizações mais avançadas geram seres mais capazes, nesta dimensão, dizíamos, seria sobre as pessoas propriamente ditas que deveríamos focar a nossa atenção e não sobre o universo macro das organizações sociais. Neste caso, apenas centrados nos seres humanos concretos poderemos abandonar os meandros de uma lógica metafísica.
E para diabolizarmos a crença na superioridade civilizacional que significa centrarmo-nos nas pessoas propriamente ditas?
Antes de mais nada entender que o homem comum de uma cultura dita mais evoluída dificilmente sobreviveria, pelos seus próprios conhecimentos e sem outros meios que não fossem o seu corpo e experiência pessoal ordinária, por exemplo, em ecossistemas como o deserto australiano ou a selva amazónica.
Apesar disso, em essas paragens habitam gentes e aí se formaram tecidos sociais que se revelaram capazes de permitir a perenidade local da espécie, tanto biológica como culturalmente.
Seguidamente, a referida focagem significa recordar que, por via da aprendizagem, qualquer indivíduo pode habilitar-se a viver em uma cultura diferente da sua.
Com isto perde interesse colocar o problema na dicotomia superioridade versus inferioridade civilizacional.
Verificamos, isso sim, diferentes respostas culturais em diversos enquadramentos ambientais do nosso planeta.
Sem embargo, permanece a possibilidade de alguém colocar a hipótese de que o preconceito etnocêntrico, exactamente como o definimos, seja um fenómeno natural aos seres humanos, isto é, algo inerente à sua condição física e psicológica.
É impossível seguir esse caminho.
Tal implicaria sermos capazes de provar empiricamente que as crianças de grupos étnicos diferentes se repelem de modo natural e espontâneo, ou que os petizes de grupos tidos por mais desenvolvidos são sempre as melhores.
Pelo menos até ao momento, essas comprovações fulcrais nunca foram conseguidas e, assim, ninguém pode sustentar a naturalidade do etnocentrismo.
Nem nos esqueçamos que ele é uma crença e, como tal, susceptível de transmissão cultural mas não biológica ou genética.
Luís F. de A. Gomes

2007-04-28

CONECTIONS

2
Se quisermos compreender a relação entre o racismo e o etnocentrismo, há duas perguntas de que não poderemos abdicar.
Como justificar que alguém –certamente com honestidade intelectual- possa ter apontado factores rácicos como os responsáveis pelas diferenças culturais entre as civilizações e sociedades humanas?
O que poderá ter estado na base da ideia que algumas raças são capazes de construir civilizações superiores enquanto outras não?
Claro que os contextos sociais e políticos, bem como os universos científicos, filosóficos e até de senso comum em que isso aconteceu, condicionaram naturalmente essas preferências. Deles saíram –perdoem-me a linguagem- pontos de referência que viabilizaram a escolha e sustentação de tais justificações.
Seja como for, anterior a tudo isso existe um pressuposto que, não sendo posto à prova, é tomado como um dado adquirido.
É a ideia que determinada sociedade é mais avançada e melhor que as outras ou, quando muito, preferível às outras.
Uma vez que os seus fundamentos não são investigados, estamos perante uma crença que assim se integra numa dada cosmovisão como seu elemento inconsciente.
Mas especialmente devido a ela, as sustentações rácicas não causam espanto. Com efeito, metafisicamente faz um certo sentido pensar que se umas civilizações são mais desenvolvidas que outras, tal possa dever-se ao facto de os seus homens serem mais capacitados. Daqui ao racismo vai o passo de uma formiga.
Deste modo, o preconceito etnocêntrico é simultaneamente o ponto de partida e suporte fundamental do racismo, pois quando superado não deixa espaço para este último.
Pretendendo derrotar esta ideologia, vemo-nos na obrigação de destacar a irracionalidade do etnocentrismo. Para tanto, temos que lhe identificar os motivos.
Luís F. de A. Gomes