2007-01-20

GNOSIOLOGICAMENTE A DIGNIDADE

COMBINAÇÕES
MISTERIOSAS

A cultura é uma construção da Humanidade, em síntese, é o que os homens acrescentam a Natureza.
Se queremos pensar em termos de características culturais, então deveremos considerar elementos que possam ser classificados como realizações dos membros da nossa espécie.
Em concordância, ao nível da cultura, ao pretendermos identificar uma propriedade passível de ser considerada universal, isto é, verificável em todos os seres humanos, vemo-nos na contingência de isolarmos um qualquer produto da actividade física ou mental da espécie humana.
A dignidade ou, se quisermos, o conceito de dignidade preenche os requisitos referidos.
Desta forma, podemos recorrer a ele para definirmos uma característica universal da cultura humana. Mas ainda assim, previamente obrigamo-nos a encontrar-lhe uma justificação no âmbito da cultura.
Será este o tema do nosso próximo encontro.

Luís F. de A. Gomes
Entre o Porto e Coimbra, 26 de Dezembro de 1999

4 Comments:

Blogger Arqui said...

Boa noite Luís,

Desculpe só agora lhe responder, mas o meu tempo disponível não me permite (infelizmente) visitar os blogs de quem me visita como pretendería.
Em relação à sua última resposta, como sabe muita coisa do que disse daria pano para mangas e seria mais apropriado para uma conversa longa de café (daquelas que já não há). Apenas lhe digo que compreendo a sua posição sobre a dignidade com que todos nascemos e a falta dela que atinge alguns de nós em estádio adulto.
Se partirmos de um princípio de fé, creio como o Luís disse, que essa dignidade é-nos inerente por direito divino, mas nesse caso eu também creio que ela nos acompanha até ao final da vida, mesmo no mais "monstruoso" ser humano. Mas isso já nos leva para outros campos, como o da possibilidade de redenção e contrição das almas até ao último sopro de vida, debate esse em que obviamente não me lançarei, deixando esse tipo de inquietações teológicas para Bento XVI :-)
Em relação ao relativismo, o problema está precisamente nas perigosas e flutuantes fronteiras da conceptualidade da ideia, onde aparentemente se escondem alguns lobos que governam este mundo. A própria ideia nega-se a si mesma. E quando me diz que um foi imposto e outro foi eleito democraticamente, isso ainda é mais preocupante, porque o facto de largas dezenas de milhoes de indíviduos votantes americanos, não terem tido a inteligência, informação e até a "intuição" (que deveria ser uma característica apuradíssima humana)de se aperceberem das reais intenções e até da natureza desse indivíduo chamado Bush, é realmente muito grave e lamentável.
Agora começam a despertar, mas já é tarde. É que os americanos ainda não aprenderam a olhar para além do seu umbigo...
Note-se que eu também admiro e muito a nação americana, o que não tem nada a ver com a minha repulsa visceral por esta administração.
Mas mudemos de assunto,

Reparei que se interessa muito pelos temas da
dignidade, cultura, Humanidade, por acaso não é filósofo, pois não? :-)

Abraço,

01:19  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Viva Arqui!
Não tem que pedir desculpas do que quer que seja e muito menos justificar o que está mais que justificado pois todos sabemos que não a disponibilidade -diria a obrigação- do profissional nesta coisa dos blogs. As visitas, sempre agradáveis, é evidente e por todos os motivos e mais algum, são bem-vindas mas fazem-se quando o visitante pode e não quando os visitados desejam. Olhe, é mais ou menos como entre amigos do peito e sei do que digo pois tenho-os e encontro-me regularmente com eles. Não precisamos de estar sempre juntos para sabermos que nunca nos esquecemos uns dos outros e mais -coisa que aqui se aplica- para fazermos sentir que não os desconsideramos. Creio que para mim isto decorre do bom senso e não entendê-lo... Em conformidade não peça desculpa e não se justifique que estamos entre gente de bem, não será? Ainda que a este nível eu me veja forçado a sublinhar a sua delicadeza em fazê-lo e a registar a generosidade que a sua boa educação om isso me transmite e neste aspecto, agradeço-o com toda a sinceridade.
Mas vamos ao que diz.
Não, não sou filósofo -fique descansada- mas tenho formação científica, no domínio das ciências antropológicas -se assim se pode falar- mormente no âmbito da antropologia física por que optei e âmbito em que tenho vindo a desenvolver desde fins de noventa e três os meus interesses a respeito do racismo. Sem me querer estar a pôr em bicos de pés, com resultados apresentados a nível académico. Seja como for é daí que advém o interesse pelos temas que destaca e que sendo colaterais naqueles domínios, a eles cheguei por via do referido trabalho. É fácil de explicar. Ocorreu-me que tão importante como factores do género do cosmopolitismo ou o respeito pelos direitos humanos e até antes deles, como barreiras, digamos assim, aos preconceitos etnocêntricos e especialmente ao racismo, estaria a compreensão da noção de Humanidade para a qual, dada a nossa ambivalência de seres biológicos e culturais, a dignidade é o único conceito -a única partícula se quiser- capaz de conferir universalidade à segunda parcela daquela dualidade. Daí o estar a falar meis repetidamente nesses temas, pois esta é uma séria de pequenas notas em que justamente alinhavei as minhas cogitações a esse respeito e que, como expliquei no primeiro post, tinha já publicado numa brincadeira conjunto com um amigo de sempre, o Luís Carlos Santos.
Quanto às inquietações teológicas como diz, estará certo o que diz e faz, mas isso não a impede de reflectir, por exemplo, no perdão e a partir daí verá que toca naquilo que a que se refere.
Pessoalmente não estarei tão seguro que não possamos perder por completo a dignidade, não em si mas enquanto acto de reconhecimento -mas confesso que isto daria pano para mangas e não poderei dizer que esteja certo que seria capaz de me explicar conveniente e inteligentemente- pelos actos que cometemos no decurso das nossas vidas.
O relativismo é um macroscópio com defeito; do ponto de vista intelectual pura e simplesmente não nos leva a lado nenhum -isto na minha modestíssima opinião, é bom de ver- e do ponto de vista científico diria que permite que consigamos construir afirmações e proposições falsas.
A possibilidade de derrubarmos governantes de quem não gostamos é uma das virtudes da democracia; para mim, para meu gosto, para a educação que me deram desde a mais tenra idade, a melhor forma de pacificamente nos pormos a salvo das tiranias -que para meu pessimismo pessoal estão sempre no horizonte- que é a pior forma de vilipendiar a dignidade dos homens, pois deixa sempre em aberto a possibilidade dos mais poderosos aniquilarem os mais fracos e indefesos -e isto não é retórica, decorre da listagem, por exemplo, dos massacres ao longo da História que seria morosa de ler- coisa que tantas vezes se repetiu à superfície da Terra e pelas mais variadas motivações. Mas tomando isto por bom, não temos como fugir ao respeito das decisões que essa possibilidade democrática implica. Não concordamos, achamos até que a escolha foi pouco inteligente e até perniciosa e perigosa, mas temos que saber aceitar e preparar a resposta no tempo e palco adequado e comumente aceite. É essa a regra. Nesse sentido, é sempre de louvar a realidade do sistema americano como outro qualquer que dê lugar a uma sociedade aberta e livre, sustentada num estado de direito. É neste sentido que, mais do que este ou aquele dos seus intérpretes que só no dominio internacional me podem dizer alguma coisa, eu gosto da política norte-americana, o seu sistema de organização política.
Espero que não a tenha maçado com tanto palavreado mas não posso deixar de ainda lhe agradecer a amabilidade da sua visita que é sempre bem-vinda. E quanto à conversa de café, não vejo que não possa ser travada neste sítio que não sendo um café nao deixa por isso de permitir que troquemos ideias. Sabemos que as respostas nem sempre podem surgir no momento imediato, mas como se trata de um registo escrito isso não tem a menor importância.
Agora acabo mesmo se não você roga-me uma praga.
Desejo-lhe um resto de um bom dia de Domingo, cheio de paz e saúde para si e todos a quem quer bem.

Luís F. de A. Gomes

PS
O debate no Largo será nesta quinzena a respeito da pena de morte, precisamente a partir de palavras que você escreveu.
Não quer participar nele? Ficaríamos encantados se o fizesse.

17:40  
Blogger Frioleiras said...

Se puder... vou lá !

00:38  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Olá Frio que tanto calor trazes contigo. Uma manhã tão cheia de brilhozinhos na erva orvalhada, aqui e ali intercalada por alvuras ainda tímidas mas já com certo orgulho, um despertar assim só poderia ser pelo efeito de uma surpresa tão bonita.
Então faça todos os possíveis para que lhe seja possível ou para nos encantar que é a mesmíssima coisa.
Muito obrigada Frio, muito obrigada mesmo por este presentinho tão delicado, como o calorzinho que nos chega mal entras nesta nossa casinha humilde.
Um resto de um dia cheio de encantar, com a cabecinha bem na Terra, mas os pés pelo ar
Luís F. de A. Gomes

09:09  

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