2007-04-28

CONECTIONS

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Se quisermos compreender a relação entre o racismo e o etnocentrismo, há duas perguntas de que não poderemos abdicar.
Como justificar que alguém –certamente com honestidade intelectual- possa ter apontado factores rácicos como os responsáveis pelas diferenças culturais entre as civilizações e sociedades humanas?
O que poderá ter estado na base da ideia que algumas raças são capazes de construir civilizações superiores enquanto outras não?
Claro que os contextos sociais e políticos, bem como os universos científicos, filosóficos e até de senso comum em que isso aconteceu, condicionaram naturalmente essas preferências. Deles saíram –perdoem-me a linguagem- pontos de referência que viabilizaram a escolha e sustentação de tais justificações.
Seja como for, anterior a tudo isso existe um pressuposto que, não sendo posto à prova, é tomado como um dado adquirido.
É a ideia que determinada sociedade é mais avançada e melhor que as outras ou, quando muito, preferível às outras.
Uma vez que os seus fundamentos não são investigados, estamos perante uma crença que assim se integra numa dada cosmovisão como seu elemento inconsciente.
Mas especialmente devido a ela, as sustentações rácicas não causam espanto. Com efeito, metafisicamente faz um certo sentido pensar que se umas civilizações são mais desenvolvidas que outras, tal possa dever-se ao facto de os seus homens serem mais capacitados. Daqui ao racismo vai o passo de uma formiga.
Deste modo, o preconceito etnocêntrico é simultaneamente o ponto de partida e suporte fundamental do racismo, pois quando superado não deixa espaço para este último.
Pretendendo derrotar esta ideologia, vemo-nos na obrigação de destacar a irracionalidade do etnocentrismo. Para tanto, temos que lhe identificar os motivos.
Luís F. de A. Gomes

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nunca me canso de te dar os parabéns pelo trabalho que tens desenvolvido a respeito do racismo. As diferenças encontram-se entre os indivíduos e não entre as diferentas raças ou classes sociais, de resto, somos todos membros da mesma espécie animal e a nossa diversidade cultural -tal como tu sustentas- decorre naturalmente da geografia e é em ela que se encontra o segredo de ter sido a nossa espécie a única que se adaptou a todos os ambiemntes terrestres.
Obrigada pelo teu trabalho, meu amigo

Zara

15:20  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Viva Zarita, é sempre agradável receber-te.
Atenção à forma como se diz, mas eu percebo e direi que é isso mesmo e só escrevo por saber que não me levas a mal o reparo, não é?
E não é que tudo isto vem a propósito da literatura, Zarita e não é que o acaso foi a mola que directamente me atirou para este domínio teórico? Engraçado, não é minha amiga.
Mas se queres que te diga deu-me um gozo enorme a publicação dos primeiros dados e a verdade é que desde então para cá e já lá vão dez anos, não mais me afastei desses estudos e neste momento continuo com a continuação dos mesmos em agenda e digo-te que o gozo ainda consegue maior que o anterior.

Bem, não te empato mais, minha querida amiga,

Luís

17:13  
Blogger CIDE said...

Reclamo para mim, o meu Direito à Diferença.
Puro egoísmo, perspectiva egocêntrica.
É o direito de me considerar ser único, concreto, irrepetível, diferente.
No fundo, é o direito à minha condição de pessoa, bem à maneira existencialista.

Mais do que a igualdade, reclamo a Diferença.
Um direito inquestionável, provavelmente o único dogma aceitável.
Mais do que a igualdade, reclamo o respeito pela minha diferença,
extensível a todos os humanos.

Cada ser humano deve ser encarado como ser único, diferente, irrepetível e concreto.
E esse deve ser o princípio dos princípios, repito: o direito à diferença de cada um.

Luís Mourinha

22:59  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Quando apareceu aquele slogan do "todos diferentes todos iguais", sempre me questionei se o certo não seria perguntar, "todos diferentes e qual é o problema?".
De facto a genética prova que cada ser humano é único e esse é o primeiro obstáculo empírico a todo e qualquer discurso racista.

Luís

00:05  

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