2007-03-03

ESBOÇO DE UM MÉTODO

Do Lugar ao Espírito do Lugar

O lugar na fenomenologia adquire uma dimensão existencial, tal como o espaço, não bastam só as referências físicas do lugar, temos que analisar o lugar segundo a sua simbologia e acima de tudo pelo seu carácter, que dá a dimensão existencial. Só assim percebemos o lugar na sua verdadeira essência, pois não é através da ciência que descobrimos a nosso dimensão existencial, mas através das analogias, um bom exemplo é a obra de arte, que retrata as profundezas da existência humana. Situarmo-nos num lugar pressupõe, ou devia pressupor, uma escolha existencial[1], estando de acordo com as nossas funções psicológicas da orientação e da identificação com esse lugar. Estando o conceito de Habitar intimamente relacionado com o “prise existencial”, sendo essa a intenção da arquitectura, habitar o lugar, dando-lhe significado e vida.
Esta preocupação com o lugar, dando-lhe uma dimensão existencial, vem da antiguidade, denominado como Genius Loci, o espírito do lugar, que os romanos acreditavam na existência protectora do lugar e do ser, era a partir dessa premissa que se adquiria a essência e o carácter do lugar, por exemplo um campo militar romano, de forma quadrada, era considerado um espaço de ataque mas simbolizando a ordem cósmica, o Homem está no lugar não no sentido geométrico mas no sentido existencial, sagrado[2], em que cada aspecto tem o seu carácter e significado, fazendo parte do seu quotidiano, portanto fazer e pensar arquitectura, segundo Norberg-Shulz no seu livro “Genius Loci”, significa uma visualização do Genius Loci[3], estão indissociáveis uma da outra, tornando o “habitat” um ponto de abrigo e segurança.
Este conceito de habitar, varia de lugar para lugar, de cultura para cultura, cada um de nós tem a sua maneira de estar no mundo, mas o que temos em comum é a necessidade que temos de nos abrigarmos e de nos identificarmos com o meio. Pois a nossa existência quotidiana acontece com fenómenos concretos, cabe-nos a nós dar simbologia e carácter a esses fenómenos, através das nossas emoções, que são o facto e conteúdo da nossa existência.
Norberg-Shulz divide a existência em fenómenos naturais[4], entendendo-se como o Homem, os animais, as pedras a água, etc., e fenómenos artificiais[5] que são as coisas que o Homem constrói para sobreviver e ter uma maior qualidade e vida, com este conceitos procura uma inter-relação, e dando-lhe a mesma importância, pois necessitamos tanto das coisas naturais como artificiais, uma não pode sobreviver sem a outra.

Maribel Sobreira, Feijó, 12 de Fevereiro de 2006

In, Materialização da Ideia – Esboço de um método com o traço de Mondrian, Lisboa 2006.
Notas:
[1]Eliade, Mircea, O sagrado e o Profano, Edições livros do Brasil, pág. 48 “ « Situar-se» num lugar, organizá-lo, habitá-lo –são acções que pressupõem uma escolha existencial (...).”.
[2] Eliade, Mircea, O sagrado e o Profano, Edições livros do Brasil, pág. 64 “Seja qual for a estrutura de uma sociedade (...), a habitação é santificada, porque constitui uma imago mundi e o mundo é a criação divina.”.
[3] Norberg-Schulz, Christian, Genius Loci, Paysage, Ambience, Architecture, Pierre Mardaga éditeur, pág.5 “ Faire de l’architecture signifie visualiser le genius loci : le travail de l’architecte réside dans lá création de lieux signifiants qui aident l’homme à habiter.’’.
[4] Norberg-Schulz, Christian, Genius Loci, Paysage, Ambience, Architecture, Pierre Mardaga éditeur, pág.10.
[5] Norberg-Schulz, Christian, Genius Loci, Paysage, Ambience, Architecture, Pierre Mardaga éditeur, pág.10.

5 Comments:

Blogger Frioleiras said...

Não tem nada a ver
mas...
a palavra LUGAR
levou-me
para
o filme
Die Grosse Stille ...

02:16  
Blogger Frioleiras said...

Em relação ao comentário sobre Giotto e Bach, q fizeste n meu blog:
Giotto (q adoro...) n tem a ver c Bach (Giotto nasceu em 1266 e Bach em 1685, pt cerc d 400 anos + tarde ...)
m ambos t 1 sublime epiritualidade, daí eu os associar ...
Tb Monteverdi (1567)poderia aí estar, sublime tb n espírito d Páscoa, q associo a renovação, religiosa ou n, de renovação até d ciclo das estações d ano... Primavera, começo, virgindade, espiritualidade ...
Bach,
esse,
só n Verão é q n o sinto tanto, eb sp o ouça ...
sp ...

Qy à Orquestra, creio q sim, q s instrumentos d época....
Poderás ver melhor n site sobre eles:
http://www.barockorchester.de/englisch/e_orchest.htm

Bj
F.

14:37  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Ora Viva Frioleiras!
Muitíssimo obrigada pelo cuidado da resposta que registo com apreço e reconhecimento.
Apesar de pouco ou nada saber de música e da história respectiva, tenho a noção das épocas daquelas que alias a meu ver, como disse, bem, precisamente pela espiritualidade que as obras respectivas manifestam.
Concordo com o que dizes de Monteverdi pelo pouco que conheço dele, pois sempre me sinto elevar para Ele quando me deixo levar nos arranjos de cordas que ele nos legou.
É giro o que dizes de Bach no Verão, mas não sei se alguma vez experimentaste deixares-te ficar contemplando um entardecer de dia quente, pode ser junto do mar, mas também serve numa envolvência de ocaso entre montanhas ou na infinitude de uma planície encabelada de verde; escolher um ponto, aí pousar e permanecer quieto, em silêncio, preferencialmente só e se acompanhado, apenas por alguém que pretenda fazer o mesmo, partilhar esse momento em que o único objectivo é estar ali, procurando pensar em nada, tão só usufruindo do momento e do que eventualmente se possa ver. Acreditas que em inúmeras ocasiões em que assim me deixo estar, ouvi melodias de Bach que -a meu modo, é bom de ver e devo dizer que sou musicalmente analfabeto se assim se pode falar- conheço de cor?
Tens que visitar Eisenach. Acho que delirarias com os fantasmas da casa de Bach e sentar-te-ias na Igreja onde ele foi organista -não me recordo o nome específico que se lhe dava- e serias capaz de o ver, a ele e aos muitos Bach que ali constam da lista dos músicos que ali acompanharam o culto. E gstarias de caminhar pelas matas adjacentes ao burgo e que sobem o monte até Wartburg, onde vadiarias de olhos encantados e com peças do João Sebastião no cérebro.
O que dizes da Páscoa decorre de uma visão cristã do mundo, não é verdade? Mas tem muito de ecuménico e é bonito aquilo que escreves. Obrigada por isso.
Muito obrigada pela tua visita que sempre encanta este espaço humilde e sobretudo muitíssimo obrigada pelo cuidado.
Um resto de dia cheio de coisas bonitas para ti, Frioleiras
Luís F. de A. Gomes

21:04  
Blogger Kai Mia Mera said...

Viva F.

Às vezes o que pensamos não ter a ver, tem tudo a ver, pois o Lugar é a nossa existência e esse filme faz parte de si, da sua existência.

Resto de uma boa Quarta feira,

Maribel

10:31  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Nunca temos palavras para expressar a nossa gratidão infinita por tudo o quanto a Maribel tem feito por esta casinha humilde.
Mas a verdade é que já a vemos como um dos membros da casa e o nosso maior desejo é que permaneça connosco.
Tudo de bom para a Mari
Luís

22:40  

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