2007-05-13

CONECTIONS

3

A fim de propormos a falta de razoabilidade do preconceito etnocêntrico avançaremos com duas ordens de argumentos. Inicialmente uma de carga fraca em que nos limitaremos a rejeitar um dos componentes daquele silogismo apriorístico. Em segundo lugar uma outra mais forte com a qual se sublinhará a impossibilidade da sua sustentação.
Ataquemos a crença na superioridade civilizacional.
Logicamente não haverá alguém de bom senso que possa negar os diferenciados graus de sofisticação tecno-económica e de condições de vida entre as diversas sociedades humanas.
Fazer dessa evidência um ponto de análise explicativa é, tão só, uma tautologia que pouco ou nada vale. Diríamos que nem faz sentido.
Equivale a dizer-se que certas sociedades humanas são mais evoluídas pelo facto de serem mais evoluídas.
Mais importante, na nossa perspectiva, interessa ressalvar que o problema deve ser encarado sob outra óptica, pois, no âmbito anterior, estamos a manuseá-lo de uma forma abstracta.
Na realidade, ao pretender-se justificar os desníveis culturais com eventuais capacidades dos indivíduos ou, se o quiséssemos fazer de modo inverso, argumentando que as civilizações mais avançadas geram seres mais capazes, nesta dimensão, dizíamos, seria sobre as pessoas propriamente ditas que deveríamos focar a nossa atenção e não sobre o universo macro das organizações sociais. Neste caso, apenas centrados nos seres humanos concretos poderemos abandonar os meandros de uma lógica metafísica.
E para diabolizarmos a crença na superioridade civilizacional que significa centrarmo-nos nas pessoas propriamente ditas?
Antes de mais nada entender que o homem comum de uma cultura dita mais evoluída dificilmente sobreviveria, pelos seus próprios conhecimentos e sem outros meios que não fossem o seu corpo e experiência pessoal ordinária, por exemplo, em ecossistemas como o deserto australiano ou a selva amazónica.
Apesar disso, em essas paragens habitam gentes e aí se formaram tecidos sociais que se revelaram capazes de permitir a perenidade local da espécie, tanto biológica como culturalmente.
Seguidamente, a referida focagem significa recordar que, por via da aprendizagem, qualquer indivíduo pode habilitar-se a viver em uma cultura diferente da sua.
Com isto perde interesse colocar o problema na dicotomia superioridade versus inferioridade civilizacional.
Verificamos, isso sim, diferentes respostas culturais em diversos enquadramentos ambientais do nosso planeta.
Sem embargo, permanece a possibilidade de alguém colocar a hipótese de que o preconceito etnocêntrico, exactamente como o definimos, seja um fenómeno natural aos seres humanos, isto é, algo inerente à sua condição física e psicológica.
É impossível seguir esse caminho.
Tal implicaria sermos capazes de provar empiricamente que as crianças de grupos étnicos diferentes se repelem de modo natural e espontâneo, ou que os petizes de grupos tidos por mais desenvolvidos são sempre as melhores.
Pelo menos até ao momento, essas comprovações fulcrais nunca foram conseguidas e, assim, ninguém pode sustentar a naturalidade do etnocentrismo.
Nem nos esqueçamos que ele é uma crença e, como tal, susceptível de transmissão cultural mas não biológica ou genética.
Luís F. de A. Gomes

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

A Humanidade adaptou-se a todos os ecossistemas terrestres e em todos conseguiu sobreviver. Não faz sentido falar em civilizações superiores versus inferiores. A diversidade das culturas humanas decorre da geografia e em ela reside um dos segredos do nosso sucesso enquanto espécie.
Luís, isto é maravilhoso que se diga. Obrigada pelas tuas observações, meu querido.

Zara

12:24  
Blogger ATIREI O PAU AO GATO said...

Há, tão só, diversas respostas aos diferentes problemas que a geo-física colocou à nossa espécie ao longo da sua história de errância pela superfície terrestre.
Nós não estamos condenados ao extermínio. Se tal suceder será por má escolha de seres como nós. A Humanidade sabe partilhar, sempre soube e pode muito bem voltar a escolher essa via.

E eu hoje estou tão feliz minha querida.

Um beijinho

Luís

00:44  

Enviar um comentário

<< Home